Nos últimos dias fui forçada a um silêncio doloroso, mas necessário. Ignorei as mensagens e chamadas, enviando apenas uma mensagem para a pessoa que realmente precisava ouvir meu pensamento naquele momento. Desde então, tenho refletido e chorado sobre um sentimento pesado que tomou conta de mim. Como mulher negra que sempre esteve envolvida em movimentos sociais, mantive um silêncio por dororidade, cumplicidade compartilhada entre mulheres que conhecem a dor de denunciar um homem negro por assédio.
Recordações dolorosas ressurgiram, incluindo momentos em que fui violentada por um homem negro. Decidi não falar sobre esses acontecimentos. Fui vítima de violências públicas e morais, mas calar era o preço que eu achava necessário pagar para preservar meu projeto pessoal. O silêncio era uma forma de proteção, de evitar escândalos públicos que poderiam prejudicar minha imagem e o projeto político em que estava envolvida.
Descobri que, muitas vezes, as mulheres negras são responsabilizadas por manter a solidariedade racial, mesmo diante de violências cometidas por homens negros. A denúncia de abusos pode ser vista como traição à comunidade. Somos questionadas e desacreditadas, revitimizadas. A responsabilidade de decidir o que fazer após uma violência recai sobre nós, mesmo quando as instituições não têm protocolos adequados para lidar com essas situações.
O silêncio se torna uma ferramenta de autopreservação, garantindo a salvaguarda da nossa privacidade e protegendo-nos dos estigmas e estereótipos que afetam a nossa comunidade. Falar entre mulheres negras se torna um ato de compreensão mútua, onde a dor compartilhada reconhece as injustiças sofridas. Espero que um dia possamos romper esse silêncio sem medo de retaliação, sem sermos vistas como traidoras da raça. A ruptura de silêncios é uma forma de empoderamento e resistência contra as violências que enfrentamos.