Longa dirigido por João Salaviza e Renée Nader Messora faz parte da Seleção Oficial do 76º Festival de Cannes e será exibido na mostra Un Certain Regard
O oitavo dia do Festival de Cinema de Cannes começou com o Brasil em destaque. Na manhã desta terça-feira (23), o evento recebeu o elenco e a equipe de “Flor do Buriti” para uma sessão de fotos para a imprensa. O longa, que é dirigido por João Salaviza e Renée Nader Messora, foi anunciado como parte da Seleção Oficial da 76º edição do festival e será exibido na mostra Un Certain Regard, que já reconheceu o talento da dupla em 2018 com o Prêmio Especial do Júri por “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos”.
Para o photocall de hoje, os roteiristas Henrique Ihjac Krahô e Francisco Hỳjnõ Krahô, que também está no elenco da produção, assim como a diretora Renée usaram da moda para deixar uma mensagem: “Marco temporal não!”. O manifesto faz referência à tese que busca definir uma data a partir de quando os territórios podem ou não ser considerados Terra Indígena. A ideia, além de ilegal e inconstitucional, é uma ameaça aos povos originários.
“A Flor do Buriti” fará sua estreia mundial em Cannes. Com os Krahô, no norte do Tocantins, o filme traz um dos temas mais urgentes da atualidade: a luta pela terra e as diferentes formas de resistência implementadas pela comunidade da aldeia Pedra Branca.
O longa atravessa os últimos 80 anos dos Krahô, trazendo para a tela um massacre ocorrido em 1940, quando morreram dezenas de pessoas. Perpetradas por dois fazendeiros da região, as violências praticadas naquele momento continuam a ecoar na memória das novas gerações.
“Filmar o massacre era um grande dilema. Se por um lado é uma história que deve ser contada, por outro não nos interessava produzir imagens que perpetuassem novamente uma violência”, explica a codiretora Renée Nader Messora. “Percebemos que a única forma de filmar essa sequência era a partir da memória compartilhada, a partir de relatos, do que ainda perdura no imaginário coletivo desse pessoal que insiste em sobreviver”, acrescenta.
“A Flor do Buriti” foi rodado durante 15 meses em quatro aldeias diferentes, dentro da Terra Indígena Kraholândia. Assim como em “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos”, a equipe era muito pequena e se dividia entre indígenas e não indígenas.