Alguns dias após fotografar para a capa e recheio desta edição de aniversário, Bruna Marquezine conversou com Vogue por mais de duas horas, onde foi fundo em suas memórias e intimidade. Aos 27 anos, a leonina com ascendente em touro revelou detalhes da sua relação com a moda, que já não foi tão saudável como é hoje, falou da família, do coração, de dinheiro e da síndrome de impostora que acompanha até uma das atrizes mais famosas do Brasil – e agora, de Hollywood. Ela é o momento!
“Momento certo”, ouvi repetidamente Bruna Marquezine dizer no vídeo feito em Paris ao agradecer a extensa equipe envolvida em sua capa de Vogue Brasil. O tal momento certo, segundo a atriz, era a feliz união de alguns instantes muito desejados na sua vida: a estreia fora do Brasil, a primeira oportunidade como produtora e codiretora de uma produção nacional e a consolidação também no mercado de moda. Aos 27 anos, às vezes ela custa a acreditar que é possível ter tudo. “Apesar de ser leonina, muitas vezes sou um gatinho abandonado na beira da estrada. É um desafio aceitar que tenho mérito ao mesmo tempo em que ouço a voz da síndrome da impostora”, diz. A seguir, leia com exclusividade trechos da conversa com a atriz.
Paula Merlo: Você já fez centenas de capas. O que faz desta tão memorável?
Bruna Marquezine: A Vogue é a maior revista de moda do mundo. É tão especial ser capa neste momento bonito da minha vida, na Vogue do meu país. É grandioso, é emocionante. Quando estávamos para fazer as fotos, eu estava prestes a entrar no set para gravar uma nova série (Amor da Minha Vida, do canal Star+). Embarquei nessa operação achando tudo uma loucura porque ficaríamos três dias em Paris, e eu voltaria quase que direto para as leituras, ensaios. E valeu tão a pena! Fiquei muito emocionada de estar ali. Esse projeto une a moda aos meus trabalhos no audiovisual. A moda impulsionou minha carreira, me fez descobrir traços da minha personalidade. Mas nem sempre foi assim. Mais nova, e já com stylist, achava chato ter que me vestir, tinha pressão. Ao longo do tempo, vi como ferramenta de autoconhecimento. Entendi a moda como arte – e arte me interessa. Me apaixonei pela coisa. Hoje tenho bons relacionamentos com as marcas e ter acesso a essas obras de arte é potente demais. Sou de sonhar muito grande, mas me ver na tela com logo da Vogue, meu nome ali, foi incrível. A foto em que estou nua é uma das imagens mais bonitas que já fiz em toda a minha carreira e vou guardar para sempre, mostrar para os meus filhos: “Mamãe aos 27 anos foi capa da Vogue!” Aí tem essa parte feliz da moda com a dramaturgia: o lançamento de Besouro Azul (filme da DC), em agosto, e a nova série em que sou protagonista, produtora e codiretora pela primeira vez, Amor da Minha Vida, pela Star+.
PM: Como foi isso?
BM: Esse projeto surgiu na pandemia. Matheus Souza, roteirista e codiretor, trouxe para mim com o cineasta René Sampaio. É uma comédia romântica sobre amadurecimento, amor, amizade aos 20, 30 anos de hoje. Eles foram generosos e abriram portas para que eu estivesse mais envolvida – e não só com a protagonista Bia. Fui tomando coragem, mas ainda envergonhada…
PM: Pensou que não estava pronta?
BM: Essa é a história da minha vida! Se já me saboto como atriz – algo que faço desde os 5 anos –, o que dirá como produtora e diretora! Tinha medo de dividir minhas ideias, de não agradar. Mas o Matheus me deixou à vontade, e o René me lembrou que tenho total capacidade de dirigir um espaço. Aquilo me encantou e me assustou também.
PM: No dia seguinte ao lançamento do trailer de Besouro Azul, em abril, você foi destacada na imprensa como estrela internacional. Como foi ver esse estouro e recomeçar fora do Brasil?
BM: Tem sido tão intenso. O lançamento do trailer, como o processo todo, foi bem tocante e foi também um exercício de aceitação. Dei um passo e estou colhendo os frutos. Me emocionei em ver meu país comemorando uma vitória que é nossa. Não cresci vendo muitas brasileiras ocupando esse espaço. O filme traz a sensação de conquista de um novo território, de um primeiro passo rumo a uma nova trajetória. Não venho do zero, mas não me encontro no ponto em que estou no Brasil. São momentos de altos e baixos, semanas em que fico em Los Angeles me encontrando e conversando com um novo time, uma nova agência (Bruna assinou em abril passado com a UTA, que representa nomes como Lil Nas X, Rosalía, Priyanka Chopra Jonas, Jennifer Coolidge e Harrison Ford). São muitas emoções e inseguranças.
PM: Como você se fortalece?
BM: Faço terapia semanalmente e tenho uma rede de apoio sensacional, que inclui minha família e um círculo de amigos da época do colégio, gente que não está nesse meio, que também considero família. Tem a Juliana (Montesanti, empresária da Bruna), com quem passo por muitas coisas. Esta Vogue também faz parte daquilo que me fortalece – respiro fundo e aceito minhas conquistas. Minha forma de celebrar é tendo gratidão. Não necessariamente saio para comemorar, mas sou grata. Agradeço a Deus, reconheço as pessoas que me ajudaram a chegar até aqui.
PM: Como foi entrar pela primeira vez com a Susan Sarandon, sua companheira de Besouro Azul?
BM: Quando vi a cadeira como nome do personagem dela – aquela cadeirinha de cinema mesmo –, minhas pernas ficaram fracas. Tive o primeiro contato com a atriz depois que terminei uma cena em que não contracenava com ela, mas que passou o tempo todo me observando. Ela disse que estava esperando para me conhecer. Nos abraçamos, conversamos e corri para o meu trailer para chorar. Caraca, que doida a oportunidade de trocar com essa artista, de aprender com ela! Cresci vendo Thelma e Louise.
PM: E a liberdade toda de não pertencer a uma emissora, como é?
BM: Maravilhoso! Encerrei um contrato de 13 anos na Rede Globo extremamente grata pela vitrine, pelo que aprendi. A Globo tinha o poder contratual de dizer que eu não estava liberada, mas a única coisa que eu não aceitaria era encerrar meu relacionamento de forma desrespeitosa. Tive que ter muita coragem para “sair de casa”, deixar minha “família”, ficar sem salário mensal e a certeza de ter uma obra atrás da outra para fazer. Foi crucial. Naquele momento, estava depositando na minha atuação a frustração com o formato em que estava trabalhando. Comecei a questionar meu amor pelo audiovisual porque estava saturada de fazer um mesmo formato. Deus Salve o Rei (novela das 19h, de 2018) foi delicada demais para mim. A personagem, minha primeira vilã, foi rejeitada pelo público porque era muito robótica. Soube esses dias que na produção eles metalizavam ainda mais a minha voz. Na época, lembro de sair de cena implorando por um horário com a minha terapeuta. Fiz 17 novelas, sei da importância delas para a cultura nacional, mas queria explorar o cinema, as séries… Não podia sucumbir por causa de um desgaste e cansaço.
PM: E deu tudo certo…
BM: Sim. Adoro ver que o Gshow comemora minhas conquistas fora da Globo. Sou grata ao universo, a Deus, a todos os sinais, minha intuição e família por ter tido coragem. Foi um passo muito difícil, mas que me fortaleceu.